O
DIÁLOGO INTER-RELIGIOSO
Iniciamos o ano de 2016 com o tema do Diálogo Inter-Religioso que
se fez presente no mundo religioso através de um vídeo do Papa Francisco que se tornou viral
– já se registraram 4 milhões e 200 mil visualizações.
Para aqueles que não viram esse vídeo vamos descrevê-lo em suas
imagens e vamos registrar também as palavras do Papa a respeito do tema.
Buscamos mais informações a respeito desse vídeo nas publicações do
IHU-Online as quais passamos a compartilhar com nossos leitores.
O
vídeo pertence à Rede Mundial de Oração do Papa. O vídeo do papa faz parte de um projeto de nova evangelização ambicioso. Seu objetivo é levar a
palavra de Francisco a milhões de pessoas. O número de visualizações já
alcançado e que tende a aumentar é prova do sucesso desse projeto.
Os
vídeos serão mensais apontando a intenção do mês para as orações dos fiéis.
A intenção das orações nesse mês de janeiro de 2016 é:
"para que haja entre as
diversas religiões um diálogo sincero que produza frutos de amor e de justiça".
Em um mundo onde a violência
religiosa se faz presente, é motivo de alegria que o Papa diga que somos todos
filhos de Deus porque somos todos suas criaturas.
O
vídeo ao mesmo tempo que obteve sucesso também gera polêmica. Gera polêmica entre os
que não gostam do Papa, que não gostam do diálogo, ou não gostam das religiões.
Essas pessoas certamente não gostaram do vídeo porque fala do diálogo inter-religioso.
Esse
primeiro vídeo trabalhou
o documento do Concílio Vaticano II – “Nostra Aetate” que trata do diálogo entre as religiões
não-cristãs.
DESCREVENDO O CONTEÚDO DO VÍDEO
O vídeo tem início com o
Papa Francisco fazendo uma explanação:
“A
maioria dos habitantes do planeta declara-se crente. Isto deveria ser motivo
para o diálogo entre as religiões.
Não
devemos deixar de rezar por isto e colaborar com quem pensa de modo diferente.”
A esta altura aparecem
quatro pessoas que são identificadas e dizem uma única frase. As três figuras
masculinas são os três co-presidentes do Instituto
para o Diálogo Inter-Religioso que o
Papa está propondo à Organização dos
Estados Americanos (OEA) e a mulher é uma líder budista argentina.
1ª pessoa – uma mulher –
Rinchen Handro (Lama)
“Confio em Buda”.
2ª pessoa – um homem –
Daniel Goldman (Rabino)
“Confio em Deus”.
3ª pessoa – um homem –
Guillermo Marcó ( Sacerdote Católico)
“Creio em Jesus Cristo”.
4ª pessoa – um homem – Omar
Abboud (Dirigente Islâmico)
“Creio em Deus, Alá”.
Na sequência, continuam as
palavras do Papa:
“Muitos
pensam de modo diferente, sentem de modo diferente, procuram Deus ou encontram
Deus de muitos modos.
Nesta
multidão, nesta variedade de religiões, só há uma certeza que temos para todos:
Todos somos filhos de Deus”.
Aparecem de novo os quatro
representantes das quatro religiões dizendo a mesma frase:
“Creio no Amor”.
De novo se volta ao papa
para suas palavras finais:
“Confio
em vós para difundir a minha intenção deste mês: Que o diálogo sincero entre
homens e mulheres das diferentes religiões produza frutos de paz e justiça.
Confio na tua oração.
Durante os momentos finais
cada religioso apresenta em suas mãos um dos símbolos de sua religião.
A Lama (Budismo) apresenta a
imagem de BUDA,
cujo nome significa “o Iluminado”, representando a figura de Siddartha Gautama.
BUDA - SIDDARTHA GAUTAMA |
O rabino (Judaísmo)
apresenta o CANDELABRO
DE SETE BRAÇOS, chamado MENORAH, que
teria sido construído por Moisés e cuja quantidade de braços – sete – significa
a plenitude, perfeição.
CANDELABRO DE SETE BRAÇOS OU MENORAH |
O sacerdote (Catolicismo)
apresenta a imagem
de JESUS MENINO que usamos nos
presépios.
TRADICIONAL IMAGEM DE JESUS NOS PRESÉPIOS |
O dirigente islâmico
(Islamismo) apresenta em suas mãos o MASBAHA, um terço com 33 contas
divididos em grupos de 11 separados por uma conta de formato e tamanho
diferente, usados nas orações. Também há a versão com 99 contas quando eles
recitam os 99 nomes de Allah.
MASBAHA |
O vídeo quer mostrar a
dignidade entre pessoas de diferentes religiões.
Quando os símbolos religiosos
são mostrados não é dito que todos são iguais, muito pelo contrário. O que se
destaca são as diferenças entre as pessoas de religiões diferentes que no
entanto mantém a paz entre si e que valorizam o Amor como valor universal.
À primeira vista o vídeo
traz uma mensagem inatacável:
“Somos
todos filhos de Deus e existem maneiras diferentes de procurar e encontrar esse
Deus.”
Mas deve-se destacar que por trás dessa
mensagem está uma intenção da Igreja Católica Romana de evangelizar.
Assista ao primeiro
vídeo do Papa Francisco dentro do seu projeto de evangelização tratando do
diálogo inter-religioso.
O
diálogo é a primeira condição necessária para evangelizar, porque sem diálogo seria impossível
transmitir a mensagem de Cristo. E para dialogar é preciso que as pessoas
tenham a mesma dignidade umas perante as outras. Não pode haver pessoas que se
sintam acima das outras.
Os católicos se acham no
dever de anunciar o Cristo aos outros irmãos, mas só poderão fazê-lo através do
diálogo. Para que o diálogo aconteça é preciso que além de falar os católicos
saibam ouvir.
O vídeo prega a igualdade
entre as pessoas, não a igualdade entre as religiões. Isto é óbvio. Quem fala é
o Papa, o líder de uma religião. Isto pode vir a se constituir num grave
problema.
A Igreja Católica continua achando ser a religião católica a única
verdadeira e que por isso tem de evangelizar para converter os fiéis das outras
religiões ao catolicismo? Continuará naquela postura de que “fora da Igreja
Católica não há salvação”?
Assim cabem algumas reflexões:
O que o Papa quis dizer com que devemos “colaborar com quem pensa
diferente”? Colaborar em que sentido?
Colaborar no sentido de respeitar o direito do outro de pensar
diferente?
Colaborar no sentido de que aquele que pensa diferente acabe
pensando igual a nós?
A fala do Papa aponta na direção de uma teologia do pluralismo
religioso?
Estará a Igreja Católica preparada para ultrapassar o Ecumenismo
rumo a algo mais amplo – o pluralismo religioso?
A NOVA
SITUAÇÃO DE PLURALISMO RELIGIOSO
Para abordar o tema do pluralismo religioso vamos nos basear no
primeiro livro de Teologia do Pluralismo Religioso publicado no Brasil de
autoria de José Maria Vigil: “Teologia do Pluralismo Religioso – para uma
releitura pluralista do cristianismo”.
O livro é formulado como um manual, um instrumento didático de modo
a proporcionar um curso de teologia popular que pode ser usado pelas
comunidades cristãs, grupos de estudo, alunos de teologia, enfim por todos que
se interessem pelo tema.
O pluralismo religioso não é
um tema surgido das especulações dos estudiosos mas provém da realidade do
mundo de hoje, da sociedade atual.
Graças ao avanço e a
melhoria dos meios de comunicação as sociedades vêm realizando uma interação e
conhecimento mútuos, num processo que cada vez mais se acelera gerando o fenômeno sociológico maior que é o da mundialização.
Mundialização significa que o mundo está se tornando uno.
As diferentes sociedades já não são mundos separados mas fazem parte de um
mesmo conjunto social maior integrando-se num só mundo. Cada vez mais todos nos
afetamos mutuamente, em maior intensidade, de forma mais imediata.
O mundo está se convertendo
numa grande sociedade unitária, uma aldeia mundial, na qual as culturas
e as religiões de cada sociedade, que antes eram isoladas e se ignoravam
mutuamente, fazem-se hoje vizinhas e se vêem obrigadas a conviver.
No passado a vida habitual
de uma sociedade transcorria dentro dos limites de sua própria cultura e
religião. Sabíamos da existência de outras sociedades com outras culturas e
religiões. Porém como eram distantes o fato de elas existirem não era
importante para nós. Não seríamos colocados na situação de termos de dialogar
com outras religiões.
Na atualidade é fato que as
religiões e culturas vejam-se obrigadas a conviver. Muitas sociedades são
pluriculturais, compostas por grupos de
pessoas procedentes de vários países. As
diferentes religiões e culturas já não são distantes entre si: agora convivem
na mesma sociedade.
O pluralismo religioso não é
uma teoria, é um fato que se aproxima cada vez mais de nós. Ninguém pode deixar
de reconhecer esta nova paisagem humana.
A pluralidade de culturas no
mundo cada vez mais é percebida como um fato potencialmente conflitivo uma vez
que a nova geração tem de lidar com uma oferta de sentidos culturais e
religiosos que não são convergentes nem harmonizados. Esse é um momento na
história onde a transformação supõe uma verdadeira revolução na consciência
religiosa da humanidade.
As novas gerações com acesso
à educação já não aceitam construções de uma única religião; não aceitam
respostas do tipo “porque sim”; diante de qualquer proposta ética ou filosófica
eles querem saber o posicionamento de outras religiões. Querem comparar para
escolher melhor. Não se sentem vinculados a uma religião. Sentem-se pessoas
livres, cidadãos de um mundo plurireligioso, no qual podem discernir e escolher
sua própria religião, ou até religião nenhuma.
OLHANDO PARA O PASSADO
No Antigo Testamento ou Primeiro Testamento
Os textos do Antigo
Testamento quando se referem às divindades dos outros povos vizinhos a Israel,
sempre o fazem de forma depreciativa como ídolos. São descritos sempre de modo
muito negativo: seriam “obras de mãos humanas”, “coisas mortas”, “nada”,
“vazio”, ”mentira”, “demônios”. Somente Iahweh (Javé) seria um “Deus
verdadeiro”.
Em contrapartida, o povo
hebreu tinha a convicção de ser um povo diferente, o povo de Deus, o eleito,
que deveria viver separado dos gentios e não misturado com eles. Israel
deveria, sem compaixão, destruir os altares e imagens desses povos derrotados e
expulsos, e não fazer aliança nem aparentar-se com eles.
No século XV da Era Comum
Na Europa do século XV se dá
outro ponto culminante dessa mesma mentalidade.
O Concílio de Florença, no ano de 1452 declarou:
Firmemente
crer, professar e ensinar que nenhum
daqueles que se encontram fora da Igreja Católica – pagãos, judeus, hereges e
cismáticos – poderão participar da vida eterna. Irão ao fogo eterno que foi
preparado para o diabo e seus anjos, a menos que antes do término de sua vida
sejam incorporados à Igreja...Ninguém, por grandes que sejam suas esmolas, ou
ainda que derrame seu sangue por Cristo, poderá salvar-se se não permanecer no
seio e na unidade da Igreja Católica.
Extra ecclesiam nulla salus (Fora da Igreja não há salvação),
dizia-se. Para nós essa afirmação hoje parece forte. No entanto essa afirmação
do Concílio de Florença foi uma afirmação comum e constante entre os cristãos
europeus durante toda a Idade Média.
No século XIX
Gregório XVI, na Encíclica Mirari Vos, de 15 de agosto
de 1832, afirmou:
Outra
coisa que tem produzido muitos males que afligem a Igreja é o indiferentismo, aquela perversa teoria apresentada em toda a parte, tão favorável
aos enganos dos ímpios, que ensina que
se pode conseguir a vida eterna em qualquer religião, contanto que haja retidão
e honradez nos costumes...
A encíclica nega
frontalmente e com ostensivo desprezo a liberdade de consciência, a liberdade
religiosa e o pluralismo religioso.
Para os Papas daquele tempo
seriam os erros da época: o pensamento moderno, as liberdades sociais, a
democracia, os direitos humanos.
No Concílio Vaticano II (1962-1965)
O Concílio Vaticano II
declara que a pessoa humana tem direito
à liberdade religiosa, estando livre de qualquer coação de forma que em
matéria religiosa não se obrigue a ninguém a agir contra a sua consciência.
Declara que o direito à liberdade
religiosa se funda na dignidade própria da pessoa humana.
Declara que a Igreja
Católica não rejeita nada que nas religiões não cristãs seja verdadeiro e
santo. Declara respeitar os modos de agir e viver, os preceitos e doutrinas
dessas religiões mesmo que discrepem em muitos pontos do que a Igreja Católica
confessa e ensina.
No ano 2000
O cardeal Joseph Ratzinger,
na Declaração Dominus Iesus defende algumas teses que se constituíram
em flagrante retrocesso:
Ø É
contrária à fé da Igreja a tese do caráter limitado, incompleto e imperfeito da
revelação de Deus em Jesus Cristo. Essa revelação seria complementar à
revelação presente nas outras religiões.
Ø Deve-se
levar em conta a distinção entre a fé católica e as crenças das outras
religiões. A fé católica é baseada na verdade absoluta e tem o assentimento de
Deus que se revelou. Já as crenças das demais religiões são experiências religiosas em busca da verdade
absoluta e carentes do assentimento de Deus.
Ø Reconhece-se
os elementos de bondade e de graça presentes nos livros sagrados das outras
religiões.
Ø Tudo
que o Espírito realiza nas culturas e religiões tem um papel de preparação
evangélica que levará ao Cristo.
Ø Seriam
contrárias à fé crista e católica aquelas religiões que propõe uma salvação de
Deus fora da única mediação por Cristo.
Ø É
contrário a fé católica considerar a igreja como um caminho de salvação
paralelo ao caminho oferecido pelas outras religiões.
Ø Os
não-cristãos podem receber a graça divina, mas se acham numa situação
gravemente deficitária, se comparadas a situação dos católicos que na Igreja
tem a plenitude dos meios de salvação.
UMA HISTÓRIA ENXOVALHADA DE GESTOS CONTRÁRIOS À ACEITAÇÃO DO
PLURALISMO RELIGIOSO – UM BALANÇO GLOBAL DESSA HISTÓRIA
v Tivemos praticamente vinte séculos de
exclusivismo cristão. Quase 2000 anos em que o cristianismo tem pensado ser a
única religião verdadeira, enquanto todas as outras religiões
seriam falsas, invenções humanas, ou simples preparação para o Evangelho.
v No mundo católico ainda não faz 50 anos
que abandonamos o exclusivismo. A mudança foi dada pelo Concílio Vaticano II. A
mudança começou na atual geração, o que explica que na imaginação do povo esta
mudança ainda não tenha tido tempo de se difundir nem de criar raízes. A
mentalidade dos cristãos comuns ainda tem uma certeza inconsciente de que o
cristianismo é a única religião verdadeira. A posição teológica pluralista de que Deus se revela em todas as
religiões, sem discriminação por parte de Deus ainda desperta surpresa e incompreensão.
v É o pensamento não-eclesial, filosófico,
científico que tem levado as Igrejas a transformar seu pensamento. Tem
sido a ciência, a filosofia, os movimentos sociais e políticos em geral que
empurraram as Igrejas cristãs a abandonar as posturas de monopólio, de
exclusivismo, de cristandade forçando a transformação do imaginário da
sociedade.
v Sempre
existiu dentro do cristianismo pensadores, filósofos, teólogos que intuíram que a atitude comum do exclusivismo
(cristianismo como única religião verdadeira) não respondia à verdade. Eles
se abriram a atitudes mais tolerantes e pluralistas, mas tiveram realmente o
caráter de exceção que confirma a regra.
v O Concílio Vaticano II, foi para a
Igreja Católica, uma aceitação de boa parte da crítica da cultura moderna às
atitudes da Igreja. Foi uma atualização. Uma reconciliação com
o mundo moderno. Infelizmente logo em seguida aconteceu uma involução na Igreja
Católica, e a evolução da teologia na direção do pluralismo religioso foi deixada
de lado.
ECUMENISMO
E DIÁLOGO INTER-RELIGIOSO – DISTINTOS MAS RELACIONADOS
A unidade entre os cristãos
e o diálogo inter-religioso, embora distintos estão não obstante, relacionados.
É preciso distinguir entre
diálogo ecumênico entre as igrejas cristãs e o diálogo inter-religioso entre as
religiões cristãs e não-cristãs.
No
diálogo ecumênico entre
as igrejas cristãs e comunhões cristãs, discute-se a identidade cristã, a
igreja una de Jesus Cristo. Nesse ponto a Igreja Católica afirma com toda a clareza
que existe apenas uma Igreja de Jesus Cristo: a Católica.
O
diálogo inter-religioso ocorre num nível diferente. Trata-se da
luta pela paz e pela justiça no mundo.
Ø Qual
é a contribuição para a paz e a justiça no mundo, que podem dar as diversas religiões?
Ø O
diálogo entre as religiões visa a sobrevivência da humanidade.
O
diálogo ecumênico entre cristãos é diferente do envolvimento dos cristãos com
as demais religiões.
Quando os cristãos conversam entre si, o objetivo final é a unidade plena,
visível e estrutural em uma casa comum.
Quando religiões diferentes se envolvem, o
objetivo é conhecer uma a outra melhor e trabalhar juntos, sempre respeitando as diferenças inalteráveis de
crença e prática entre as religiões.
Os
cristãos tem que estar unificados antes de iniciarem um trabalho junto às
outras religiões. Se judeus, muçulmanos, hindus, budistas e
assim por diante, apreenderem uma mensagem dos católicos, e outra dos batistas,
ou uma mensagem dos ortodoxos e uma outra dos pentecostais, isso pode acabar
atrapalhando esse diálogo entre cristãos e as outras religiões.
PAPA FRANCISCO E A BUSCA PELA UNIDADE CRISTÃ E
O DIÁLOGO INTER-RELIGIOS0
Desde o começo o Papa
Francisco manifestou, como todos os seus antecessores recentes, um desejo de
ter boas relações com as religiões do mundo, bem como com as mais várias
denominações cristãs. Raramente, no entanto, este desejo se fez tão visível ou
intenso como nesses tempos.
No dia 17 de janeiro de 2016, Papa Francisco visitou a Grande
Sinagoga. Foi a sua primeira visita a um lugar judaico
de adoração desde que foi eleito para o papado em março de 2013. Essa visita
marcou a terceira vez que um papa vai a esta sinagoga na cidade de Roma. Foi o dia anual da Itália para o diálogo
judaico-cristão.
PAPA FRANCISCO VISITANDO A GRANDE SINAGOGA DE ROMA |
No dia 25 de janeiro de 2016, Francisco foi à Basílica de São Paulo
Fora dos Muros, como fazem os papas todos os anos, para
marcar o fechamento da Semana de Oração
pela Unidade entre os Cristãos. Em geral, esta é a ocasião anual mais
importante para os papas refletirem sobre o ecumenismo. O ecumenismo dá um
impulso renovado para o diálogo inter-religioso.
PAPA FRANCISCO NA BASÍLICA DE SÃO PAULO FORA DOS MUROS |
Até aí, Francisco estava
apenas conservando a tradição.
Em 20 de janeiro de 2016, o Papa foi convidado para visitar a Grande
Mesquita de Roma por uma delegação muçulmana italiana. A
Mesquita de Roma é a maior da Europa. O Santo Padre aceitou o convite, mas a
data ficou em aberto. Segundo indicações
da comunidade islâmica de Roma, mas ainda não confirmadas pela Santa Sé, esta
visita deverá acontecer no próximo dia 10 de abril.
GRANDE MESQUITA DE ROMA |
Papa
Francisco será o primeiro papa a visitar a Mesquita, aberta desde 1995, para
atender a pequena comunidade muçulmana em Roma.
O
evento realizar-se-á no âmbito do Jubileu
da Misericórdia, o que é muito significativo já que o Papa enfatiza a dimensão inter-religiosa da misericórdia.
A Bula Papal afirma que a
misericórdia tem um valor que vai além das fronteiras da Igreja. Ela nos
relaciona com o judaísmo e o islamismo, que consideram a misericórdia um dos
atributos mais qualificadores de Deus.
Francisco espera que neste
Ano Jubilar, vivendo a misericórdia, possa:
Ø favorecer
o encontro com essas religiões e outras tradições religiosas;
Ø nos
tornar mais abertos ao diálogo para conhecermos e compreendermos melhor uns aos
outros;
Ø eliminar
todas as formas de impasse e de desprezo;
Ø afastar
qualquer forma de violência e discriminação.
A
visita a Grande Mesquita de Roma possui um significado muito importante, porque
converteria Roma na capital pacífica das três grandes religiões monoteístas, a
cidade de convivência inter-religiosa possível e praticada.
A mensagem embutida nesses
encontros do Papa com autoridades das outras religiões é que a construção de laços com os judeus,
muçulmanos e outros cristãos são igualmente importantes.
Afinal, como já dizia Paulo
VI diante das Nações Unidas em 1965, a
Igreja Católica quer ser uma “especialista em humanidade”, o que inclui as
várias expressões religiosas de toda a família humana.
PAULO VI NAS NAÇÕES UNIDAS |
Francisco
deu um contratestemunho ao extremismo religioso e à violência.
Atualmente, até mesmo pessoas razoáveis são tentadas a concluir que a religião
destina-se, inevitavelmente, a pôr as pessoas umas contra as outras (demonstram
isso acontecimentos como os do derramamento de sangue associado ao ISIS, o Boko
Haram, o conflito entre cristãos e muçulmanos na República Centro-Africana, o
aumento do extremismo hindu e budista em regiões da Ásia, ataques terroristas
em toda a Europa).
Francisco possui
determinação em mostrar que as coisas não precisam ser dessa forma. A religião
pode ser parte tanto da solução como do problema. Janeiro
de 2016 deu ao Papa Francisco uma boa plataforma para transmitir essa mensagem
em alto nível.
O Cardeal Walter Kasper,
presidente emérito do Pontifício Conselho para a promoção da Unidade ente os
cristãos, disse em um artigo publicado no jornal Avvenire, em 02-02-2014 que:
“Francisco é um papa da paz e um promotor ecumênico da paz. Aos seus
olhos, o caminho ecumênico de convergência entre os cristãos, assim como a
amizade com o povo judeu e a colaboração com as outras religiões, caminham lado
a lado e a serviço da unidade e da paz por toda a família humana.”
Espera-se que esse afã de
trabalhar junto aos demais consiga transformar os corações e mentes onde isso
se faz necessário.
BIBILIOGRAFIA:
1- Vigil,
José Maria - “Teologia do pluralismo religioso – para uma releitura pluralista
do cristianismo” – São Paulo: Paulus, 2006
2- Boletins
Informativos (newsletter) do Instituto Humanitas Unisinos:
a) O vídeo
do Papa, além das polêmicas – 18/01/2016
b) O
Papa do diálogo inter-religioso – 21/01/2016
c) Papa
Francisco e a busca pela unidade cristã e o diálogo inter-religioso –
21/01/2016
d) Ecumenismo
nos passos do Papa Francisco – 04/07/2014
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