terça-feira, 6 de março de 2018

A VISITA DO PAPA FRANCISCO AO CHILE - PEDOFILIA E CRISE DE CREDIBILIDADE NA IGREJA




A visita do papa Francisco ao chile
(15 à 18 de janeiro-2018)

PEDOFILIA E PODER SAGRADO
CRISE DE CREDIBILIDADE NA IGREJA

PARTE II





Olá leitores e leitoras de “Teologia e Espiritualidade”.

Em nossa postagem anterior, há quase dois anos atrás, enfocamos o tema da pederastia eclesiástica, que foi alvo do filme “Spotlight – Segredos Revelados”, vencedor do Oscar de 2016, como melhor roteiro.

O filme funcionou como um alto-falante que colocou em primeiro plano a pederastia eclesiástica, um grave problema que no entanto talvez não tivesse sido percebido pelo público em geral.  Fica claro através do filme, que inúmeras vidas tiveram seu rumo truncado, prejudicado por homens sem escrúpulos, que por exercerem a função de padres, tornaram seu comportamento criminoso ainda mais ignóbil.

O filme também denunciou a atitude de omissão da Igreja Católica, através de suas autoridades, que acobertaram de forma igualmente criminosa os atos de violência sexual cometida por inúmeros padres pelo mundo afora. A instituição buscava abafar os crimes praticados ao invés de punir os agressores buscando com isso preservar a sua credibilidade.

Voltamos ao tema da Pedofilia na Igreja porque ele continua em pauta. Basta vermos o que aconteceu na última visita do Papa Francisco ao Chile para se constatar que o problema dos padres pedófilos continua ferindo de morte a Igreja Católica, mesmo depois de tanto tempo ter se passado desde a denúncia do jornal “The Boston Globe” sobre a prática sexual criminosa de padres pelo mundo afora.


Inicialmente vamos enfocar a visita do Papa Francisco ao Chile, que reacendeu a crise provocada pelo escândalo de pedofilia envolvendo padres católicos no país.


VIAGEM DE FRANCISCO AO CHILE

15 À 18 DE JANEIRO DE 2018

DECEPÇÃO E FIASCO




Quando o cardeal Pietro Parolin, secretário de Estado do Vaticano, disse que a visita do Papa Francisco à América Latina “não seria fácil”, ele não estava exagerando. A 22ª viagem papal foi alvo de um grau sem precedentes de hostilidade – e justamente no seu continente natal. O Papa passou pelo Chile com uma recepção gélida, ruas vazias, debaixo de seguidas reprovações.

Francisco chegou no dia 15 de janeiro ao Chile, em um momento delicado da Igreja Católica. O país ainda digere acusações de que quase 80 clérigos chilenos teriam abusado sexualmente de menores desde o ano 2000. Também recentemente aprovou leis para descriminalizar o aborto e reconhecer uniões civis homossexuais.

Além disso, é no Chile que Francisco tem a menor aprovação em todo o continente: recebeu dos chilenos a nota 5,3 em uma escala de zero a dez (no Brasil, a nota dele é 8,0). Com isso, não chegou a surpreender o pedido do Papa, antes de embarcar, para que sua congregação “reze por ele” durante sua visita ao Chile.

Estima-se que mais de 60% da população do Chile se identifique como cristã, sendo 45% católica, mas trata-se também do segundo país mais secular da América Latina. Cerca de 38% dos chilenos se dizem agnósticos, ateístas ou não religiosos.


TRÊS MAIORES DESAFIOS QUE O PAPA ENFRENTOU NA PASSAGEM PELO CHILE


GASTOS E POBREZA

A viagem foi precedida por críticas aos gastos com a viagem – foram mobilizados 18 mil integrantes das forças de segurança nacional para a visita papal – enquanto ao menos 15% da população vive abaixo da linha de pobreza.
Extraoficialmente, a estimativa é de que o governo chileno gastaria USS$ 11 milhões (onze milhões de dólares) com a visita, sobretudo em medidas de segurança e de logística.

Ao menos quatro igrejas católicas foram atacadas em Santiago – três delas com explosivos caseiros, acompanhados de panfletos advertindo que o papa seria o alvo seguinte. A polícia atribuiu a autoria dos atos a um grupo anarquista.

A quarta igreja foi poupada porque o explosivo foi desarmado, mas uma mensagem foi deixada em um muro próximo, dizendo que “os pobres estão morrendo”.



RESSENTIMENTO POR CONTA DE ACOBERTAMENTOS DE ESCÂNDALO SEXUAL

Eram previstos, durante a passagem do papa, protestos de grupos feministas e de direitos homossexuais. Mas as manifestações que atraíram mais os holofotes foram aquelas dirigidas a uma ação de Francisco que está no centro das críticas que ele sofre no Chile.

Que ação foi essa? Em 2015, ele nomeou como bispo de Osorno (no sul do país) Juan Barros que acobertou Fernando Karadima anos a fio, opondo-se a todas as investigações do caso.

O bispo é acusado de acobertar abusos sexuais atribuídos ao sacerdote Fernando Karadima, hoje com 87 anos, condenado em 2011 pelo Vaticano por abusar de crianças.

O chamado caso Karadima abalou fortemente a imagem da Igreja Católica no Chile, já que, ao longo de mais de uma década, autoridades eclesiásticas ignoraram as acusações contra o sacerdote, que tinha fortes vínculos com a elite política e empresarial do país.

Só quando as vítimas vieram a público é que o Vaticano decidiu investigar o caso.





O papa já declarou ter “tolerância zero” a abusos sexuais, mas a nomeação de Barros como bispo de Osorno reabriu antigas feridas. Segundo as vítimas de Karadima, Barros tinha conhecimento dos abusos praticados por seu protegido e permitiu que eles seguissem sendo praticados. O bispo nega as acusações.

O caso Karadima é possivelmente o principal fator do desprestígio da Igreja no Chile, afirma Marta Lagos, diretora da Consultoria Latinobarômetro, que avaliou a percepção da instituição na América Latina. “Há no Chile, uma sensação de ausência de normas, que aumentou nos últimos quatro anos com a revelação de casos de corrupção na política e no empresariado”, afirma Lagos. “E a Igreja, tida como cúmplice da forma ruim como se lidou com o caso Karadima, entra nessa tendência geral de desconfiança do poder estabelecido.”

Em uma carta aberta, James Hamilton, uma das mais conhecidas vítimas de Karadima, diz que “ainda não entende como nós, as milhares de vítimas de abusos, não fomos protegidas por nossos padres, que se silenciaram diante do que aconteceu conosco”.


DESCONTENTAMENTO INDÍGENA

Na quarta-feira,17 de janeiro, o papa visitou Temuco, cidade do sul do Chile tida como a capital do povo mapuche.

Os mapuches são indígenas que reclamam a devolução das terras que lhes terão sido roubadas pelos militares no final do século XIX. A ideia é dar visibilidade a sua luta (que tem se intensificado e já originou conflitos com a polícia), mas poderá enfrentar também os seus próprios protestos – muitos acusam a Igreja Católica de cumplicidade no roubo das terras.

Os mapuches se opuseram a 300 anos de colonização (primeiro por parte dos espanhóis e dos próprios chilenos) em um dos conflitos mais antigos da América Latina – com erupções ocasionais de violência.

Líderes de ambos os lados do conflito esperavam que Francisco ajudasse a pôr fim a décadas de discriminação e a mediar discussões em torno de questões espinhosas, como direito a terras ancestrais, além de reconhecimento da cultura e língua mapuche.


“VIAGEM DE FRANCISCO AO CHILE: DECEPÇÃO E FIASCO”





Vamos reproduzir alguns trechos do artigo, “VIAGEM DE FRANCISCO AO CHILE: DECEPÇÃO E FIASCO” de  autoria de Mauro Lopes. 

Nesse artigo Mauro Lopes faz uma avaliação crítica da viagem de três dias do Papa Francisco ao Chile indicando o contexto e os principais fatos dessa viagem.

“O Papa Francisco decidiu viajar ao Chile sabendo que visitaria uma Igreja em profunda crise. No Chile o Papa tem a pior avaliação em toda a América Latina. Em toda a região, é no Chile onde há a maior desconfiança em relação à Igreja Católica: apenas 36% dizem confiar na instituição, o pior resultado latino-americano, contra a média de 65% na região.

A realidade era e é plenamente conhecida por Francisco. A Igreja local depois da avassaladora intervenção de João Paulo II nos anos 80 sofreu transformações:

Ø  De combativa e ao lado dos chilenos, tornou-se apoiadora de uma das mais sanguinárias ditaduras do continente, a de Pinochet;
Ø  Afastou-se do povo, alinhando-se aos ricos;
Ø  Tornou-se profundamente clericalizada;
Ø Esmerou-se por décadas em encobrir sacerdotes abusadores e pedófilos.


O Chile foi um dos países onde o modelo de Igreja Wojtyla/Ratzinger foi implementado com mais inteireza e, se depois dos dois papados, a Igreja em todo o mundo estava imersa em grave crise, no pequeno país a situação é de um desastre lastimável.

A Igreja chilena ainda respira o clima inquisitorial dos tempos de João Paulo II e Bento XVI. Os sacerdotes vinculados à teologia latino-americana continuam a ser perseguidos tenazmente. Um dos principais teólogos do país, o jesuíta Jorge Costadoat, foi proibido de continuar a ensinar na Universidade Católica do Chile, onde lecionou por mais de 20 anos, pelo arcebispo de Santiago, dom Ricardo Ezzati, em pleno papado de Francisco - em 2015, o que levou a protestos e abaixo-assinados que chegaram a Roma.

Esta é a igreja que Francisco decidiu visitar, com plena consciência de tudo o que lá aconteceu e acontece. O que esperavam aqueles que o admiram e apoiam? Uma chacoalhada no status quo eclesial local, um posicionamento ao estilo de seus seguidos reptos à Cúria romana, do qual o exemplo mais vigoroso é o discurso de Natal de 2015, onde listou o “catálogo” das “doenças curiais”.

Não houve nada disso no Chile. O Papa manteve seu tom pastoral, apontando para uma igreja em saída, defendeu os pobres, condenou o clericalismo, esteve com os índios mapuche, reuniu-se com algumas vítimas de abusos do clero local. Mas os chilenos, com justa razão, queriam mais. Não tiveram.

O resultado foi o que se viu. Protestos, frieza, ausências.

A presença nas missas campais foi muito abaixo das expectativas e das estruturas armadas para receber o povo, exceto pela da capital. A celebração na Base de Maquehue, em Temuco, teve uma audiência de cerca de 200 mil pessoas – metade do número inicialmente projetado; na de Campus Lobito não passaram de 50 mil pessoas, embora o lugar pudesse acomodar 350 mil pessoas; no Encontro com os Jovens, realizado no Santuário de Maipu, e diante do panorama vivido em Temuco, os bispos chilenos apressaram-se a estender o convite a pessoas de todas as idades, sem sucesso.

O fracasso de Francisco no Chile estendeu-se até à sua relação normalmente intensa e positiva com os povos originários. Os mapuche ficaram profundamente insatisfeitos com a postura do Papa. “Antes de falar de paz, devolva as terras usurpadas” – estes foram os termos de um documento das comunidades mapuche sobre o encontro com Francisco. Houve indignação com a defesa que Francisco fez por “paz” e “perdão” sem que tenha manifestado concretamente pela devolução das terras que foram brutalmente arrancadas aos mapuche, vítimas também de um verdadeiro genocídio pelo Estado chileno.

Houve até mesmo repressão policial durante a visita, sem que o Papa ou a Igreja tivessem protestado. A Marcha dos Pobres, com 250 pessoas, convocada por movimentos sociais e que pretendia ir até a missa campal de terça-feira em Santiago, foi dissolvida violentamente pela polícia, que prendeu mais de 20 pessoas. O episódio ecoa tristemente a repressão brutal que sofreu outra manifestação com 250 sem teto durante a visita de João Paulo II ao país, em 1987. Na ocasião, morreu um jovem de 26 anos, Patrício Juica. A repressão atingiu os fiéis que participavam da missa, ferindo 600 pessoas. A Conferência dos Bispos Chilenos, já controlada pelos conservadores, emitiu uma nota culpando os manifestantes e afirmando que os policiais eram vítimas.



A GRANDE DECEPÇÃO DA VIAGEM


Mas a grande decepção com a viagem foi o comportamento do Papa em relação ao tema que é uma ferida aberta na relação do povo chileno com a Igreja local: os casos de abuso sexual e pedofilia perpetrados por sacerdotes, em especial o caso que se tornou seu símbolo: o da dupla Karadima/Juan Barros.

O padre Fernando Karadima (Fernando Salvador Miguel Karadima Fariña),de 87 anos, abusou sexualmente de mais de 75 crianças e jovens. Ligado à direita empresarial e política, foi afastado pela Igreja apenas em 2011, depois de anos de denúncias, respondidas com silêncio, apoio ao padre pela hierarquia local e seus colegas clérigos e condenações aos denunciantes. Ele, porém, continua como sacerdote e vive em situação de conforto em residências eclesiais.





Um de seus apoiadores foi o bispo Juan Barros que em 2015, foi nomeado pelo Papa Francisco como bispo de Osorno (no sul do país).




      
Houve protestos expressivos no Chile contra a nomeação, especialmente da comunidade de Osorno, mas eles foram ignorados por Roma.

Barros esteve presente na missa campal no Parque O’Higgins, na terça-feira, dia 16 de janeiro, e tratado com deferência por Francisco.

O fato foi considerado um escândalo e um desrespeito às vítimas de abusos e abriu uma série de questionamentos ao Papa, sob o argumento de que suas palavras de solidariedade aos abusados e suas famílias não correspondem aos fatos e ações do Vaticano.




A comunidade de Osorno conseguiu entregar uma carta ao Papa através do presidente da Câmara dos Deputados, Fidel Espinoza, em que lhe pedem para reverter a nomeação episcopal de Barros – a situação da Igreja chilena é tão lamentável que a comunidade católica de Osorno precisou recorrer a um político para entregar a carta.

Houve mais: o teatro continuou quando o Papa se encontrou a portas fechadas com vítimas de padres chilenos. No entanto, de acordo com a imprensa local, as vítimas de Karadima não foram convidadas para esse encontro com o Papa.


O EQUÍVOCO DE FRANCISCO – A DEFESA AO BISPO BARROS






O ponto culminante foi a inacreditável defesa que Francisco fez do bispo Barros, ao final da viagem afirmando que ele seria vítima de calúnias, exigindo que se apresentassem “provas” contra ele e chamando os fiéis de Osorno de “surdos” e “tontos” por exigirem a remoção de Barros.














O papa foi duramente reprovado pelas vítimas de Karadima. José Andrés Murillo, diretor da Fundación para la Confianza, criada para atender as pessoas vitimadas e ele mesmo uma das vítimas do padre Karadima, foi contundente:

Não é a primeira vez que o Papa pede perdão, que tem lágrimas de vergonha: aqui, repito, as palavras, se não vão acompanhadas de ações, não valem nada e isto está super claro. Não se trata de que sejam suficientes ou não, as palavras não servem se não são acompanhadas de ações concretas”.

E não houve qualquer ação concreta, ao contrário, a única que houve foi a reafirmação pelo Papa, do poder de um bispo cúmplice. 

Depois da manifestação do Papa de apoio ao bispo Barros, Murillo divulgou uma carta pesarosa na manhã de 19/01/18: ”o que o Papa fez é ofensivo e doloroso”.

O tema dos abusos foi tratado como uma “batata quente” durante a visita. E não como uma prioridade para ações concretas.


A REAÇÃO DAQUELES QUE O APOIAM COTIDIANAMENTE NO PAÍS, MESMO SOB PERSEGUIÇÃO DA HIERARQUIA CHILENA.


O Conselho editorial do site Reflexión y Liberación, respeitado internacionalmente, lamentou: “Todo esse episódio, sem dúvida, marcou e turvou a agenda da visita apostólica do Papa Francisco ao Chile”.


Em seu editorial, Reflexión y Liberación fez questão de publicar uma foto emblemática do envolvimento da hierarquia chilena com os casos de abuso, onde quatro padres abençoam Karadima num dos salões da paróquia El Bosque, onde foram cometidos os crimes pelo padre abusador.

Todos os que abençoam foram, ao longo dos anos, nomeados bispos por João Paulo II e hoje são homens fortes da Igreja chilena. São eles: Horácio Valenzuela, Juan Barros, Andrés Arteaga e   Tomislav Koljatic.


O sacerdote jesuíta e teólogo chileno Iván Navarro escreveu que o Papa "instalou novamente a distância e a frustração com sua acusação de calúnia às vítimas" e acrescentou:” Uma parte importante do país e de católicos nos sentimos ainda doloridos. Não concebemos um catolicismo autoritário, não dialogante, que faz defesas corporativas. Não nos representam bispos pouco transparentes e processos pouco claros. As vítimas novamente desacreditadas, uma diocese de Osorno dividida, e a esperança de um Papa diferente notavelmente arranhada”.

Jorge Costadoat, o teólogo jesuíta mais perseguido pelos hierarcas do Chile e um apoiador de Francisco de primeira hora, sobre quem já escreveu dois livros, afirmou sua “frustração e perplexidade” e escreveu com tristeza:” a muitos sua visita nos deixou um sabor muito amargo”.

A comunidade de leigos da diocese de Osorno, que luta pelo afastamento do bispo Barros, divulgou um comunicado que se abre com um lamento doloroso:” O duro juízo que o Papa Francisco emitiu em Iquique causou desconcerto, frustração e dor em meio a uma comunidade já impactada pelos reiterados casos de abuso sexual e encobrimento dos crimes denunciados em todo o mundo”.

O jornalista católico Luis Badilla, que escapou da morte no Chile de Pinochet e vive há 42 anos na Itália, onde é editor do site II Sismografo, afirmou que a postura do Papa foi um “erro” de tremendas repercussões e revelou que já há notícias de que a ala conservadora da Igreja chilena, sentindo-se fortalecida pela postura de Francisco iniciou uma ofensiva “sobre aquela parte do mundo eclesial local, frágil, assustado e hesitante, que tenta reviver os destinos dessa Igreja tão sofrida e ferida, em crise e declínio há algumas décadas”.

Josefina Canales, presidente da Federação dos Estudantes da Universidade Católica, entregou aos assessores de Francisco uma carta de duas páginas sob o título: ”A Igreja ausente”, na qual os estudantes criticam a hierarquia chilena pela passividade diante dos abusos, pelo afastamento do povo e, no caso da Universidade Católica, pela expulsão de professores e manutenção de condições de trabalho indignas para os contratados pela instituição. O reitor da UC, Ignácio Sánchez, fez “cara de paisagem” diante da entrega da carta por seus estudantes.

O equívoco do Papa é tão flagrante que foi condenado até pelo cardeal de Boston, Sean O’Malley, coordenador da Pontíficia Comissão para a Tutela dos Menores, encarregada dos casos de abuso sexual na Igreja.



Ele divulgou uma nota na qual reconhece:  

É compreensível que as declarações do Papa Francisco...causaram muito sofrimento às vítimas de abuso sexual cometidos pelo clero ou qualquer outro criminoso”. 

Sobre a afirmação do Papa sobre pretensas calúnias e sua exigência de provas, Sean O’Malley foi taxativo:

Palavras que transmitem a mensagem de que se você não consegue provar o que reinvindica, ninguém vai acreditar em você”...” relegam as vítimas a um exílio de descrença”. 

Não é à toa que o título da nota pública da comunidade de Osorno tenha sido:

”O Papa não nos escutou, o cardeal O’Malley sim”.


22 DE JANEIRO DE 2018


O POLÊMICO PEDIDO DE DESCULPAS DO PAPA FRANCISCO POR TER FERIDO AS VÍTIMAS DE ABUSO SEXUAL


O Papa Francisco pediu desculpas em 22 de janeiro às vítimas de abusos sexuais por padres no Chile. Ele reconheceu que “machucou” as vítimas quando pediu “provas” das violações.

O pontífice fez a declaração a bordo do avião que o levava de volta a Roma, depois da viagem pelo Chile e Peru. Segundo James Reynolds, correspondente da BBC em Roma, “é incomum o papa se desculpar por suas próprias palavras. Ele entendeu que seu pedido de provas foi um tapa na face das vítimas.


30 DE JANEIRO DE 2018


APÓS DEFENDER BISPO, PAPA ENVIA O ARCEBISPO DOM SICLUNA, INVESTIGADOR DE ABUSOS SEXUAIS AO CHILE


Criticado por defender publicamente o Bispo de Osorno, Juan Barros, acusado de acobertar denúncias de pedofilia, o papa Francisco decidiu enviar o principal investigador de abusos sexuais da Igreja católica - o arcebispo Charles Scicluna, de Malta - para o Chile para apurar denúncias de que ele teria acobertado agressões sexuais contra menores.

Em 30 de janeiro, nota do Vaticano afirmou que novas informações surgiram sobre o bispo Juan Barros, e em virtude delas o Papa Francisco enviaria o arcebispo Charles Scicluna, de Malta, ao Chile para “ouvir aqueles que queiram entregar informações em sua posse”. Foi Scicluna quem revelou evidências de abuso sexual que levaram à remoção do padre mexicano Marcial Maciel, fundador dos Legionários de Cristo, em 2005.




A missão de dom Scicluna não é um passeio, uma vez que para o Papa, esclarecer esse caso chileno é uma questão fundamental, prioritária e urgente.

Diz a reportagem publicada por Il Sismógrafo, dos repórteres Luis Badilla e Francesco Gagliano que as vítimas já foram ouvidas no passado, já tiveram oportunidade de entregar seus testemunhos de forma oficial. 

A tarefa de Scicluna é ouvir tudo e, sobretudo, novos elementos até hoje desconhecidos ou não esclarecidos – isso é indubitável - mas para poder em última instância, ter um relatório definitivo e completo que possa, se necessário, eventualmente, iniciar um processo judiciário e remover o véu de mentiras desse caso torpe, que, há muito tempo, está envenenando a Igreja chilena e não só ela.

Talvez, no Chile, seria a hora de que mais homens da Igreja olhassem na cara da verdade e deixassem de acomodar os fatos às próprias escolhas e interesses.


06 DE FEVEREIRO DE 2018


MARIE COLLINS DENUNCIA QUE O PAPA FRANCISCO SABIA DO 
ACOBERTAMENTO DO BISPO BARROS DOS CRIMES SEXUAIS DE 
FRANCISCO KARADIMA


Marie Collins, a sobrevivente de abusos sexuais que abandonou em 2017 a comissão papal de luta contra a pedofilia, decidiu se manifestar escrevendo no Twitter e contatando a imprensa.





Ela afirmou no Twitter: “Entrei em choque quando ouvi que o Papa disse no avião que as vítimas de Karadima não chegaram até ele e que ele as ouviria caso o fizessem. Eu sabia que elas o contataram diretamente através de uma carta há três anos”.

Em 12 de abril de 2015, ela foi a Roma com uma carta de um chileno vítima de estupro – Juan Carlos Cruz. Ela e outros três membros da comissão entregaram a carta ao cardeal americano Sean O’Malley, que expressou sua preocupação.

“Ficamos preocupados com a nomeação de Barros, sobretudo se ele foi testemunha de abusos e não identificou os fatos como abusos. Isso significa que ele não protegeu as crianças na condição de bispo” explica Collins.

O cardeal O”Malley, presidente da comissão, também faz parte de um grupo de nove cardeais que ajuda o Papa a reformar o Vaticano. Ele assegurou que entregou a carta ao Papa, acrescentou Collins.

De acordo com Collins, ao menos três vítimas diretas de Karadima acusam Barros de ter testemunhado alguns atos de abuso. Barros nega as acusações.


QUEM É MARIE COLLINS?
QUE PAPEL ELA DESEMPENHOU NA LUTA PELA DEFESA DAS VÍTIMAS 
DOS PADRES PEDÓFILOS?


A irlandesa Marie Collins foi nomeada em 2014 para ser um dos dois sobreviventes de abuso sexual clerical a atuar na Pontifícia Comissão para a Tutela dos Menores, do Papa Francisco.  O outro sobrevivente nomeado foi o inglês Peter Saunders.

Collins e Saunders eram pessoas conhecidas como sobreviventes de abuso clerical muito antes de serem nomeadas à Comissão. Eles   tinham a reputação de serem francos na luta contra a pedofilia na Igreja. Esse foi um dos motivos pelos quais foram escolhidos, com base em que a credibilidade deles dentro da comunidade dos sobreviventes de abuso sexual seria emprestada à Comissão para a Tutela dos Menores.

Ela renunciou a este cargo em 1º de março de 2017, divulgando uma nota, em que explica os motivos que fizeram com que se demitisse da referida comissão.

A nota foi publicada por National Catholic Reporter, em 01-03-2017 da qual faremos uma síntese dos principais trechos.

Collins diz que nos três anos de existência a Pontifícia Comissão para a Tutela dos Menores enfrentaram dificuldades que incluíam a falta de recursos, de estruturas adequadas para os colaboradores, lentidão e resistência cultural. O problema mais significativo foi a relutância de alguns membros da Cúria Romana em implementar as recomendações da Comissão mesmo depois de aprovadas pelo Papa.

Uma das recomendações da Comissão foi a de que se criasse um tribunal onde bispos negligentes pudessem ser responsabilizados. Essa recomendação foi aprovada pelo Papa Francisco e anunciada em junho de 2015. No entanto, a Congregação para a Doutrina da Fé, encontrou dificuldades jurídicas não especificadas, e assim o tribunal acabou não vingando.

A relutância de algumas pessoas na Cúria Romana para implementarem as recomendações ou cooperar com o trabalho de uma comissão, quando o propósito é melhorar a segurança das crianças, jovens e adultos vulneráveis ao redor do mundo, é inaceitável.

Collins pergunta: 

“Será que essa relutância é impulsionada por uma política interna, por um medo de mudar, pelo clericalismo que instila a crença de que ‘eles sabem melhor’, ou ainda por uma mentalidade fechada que vê o abuso sexual como uma inconveniência ou pelo apego a velhas atitudes institucionais?”

“É horrível ver em 2017 que as pessoas ainda conseguem pôr outras preocupações antes da segurança dos menores e adultos vulneráveis”.







  
Vemos na nota de Collins,  no trecho a seguir, a referência a uma prática que tem relação direta com a nova denúncia feita por ela, agora em 2018, que diz respeito a correspondência enviada por vítimas/sobreviventes a departamentos do Vaticano.


Diz Collins em sua nota:

”Em 2016, seguindo um pedido da Comissão, o papa instruiu todos os departamentos do Vaticano a garantir que toda correspondência enviada pelas vítimas/sobreviventes receba uma resposta. Eu soube por uma carta enviada por um dicastério em particular em fevereiro-2017, que eles estavam se recusando a assim proceder.

“Acho impossível ouvir declarações públicas sobre a preocupação profunda da Igreja pelo cuidado daquelas vidas que foram prejudicadas por abuso sexual e, no entanto, assistir em privado uma congregação vaticana se recusar a reconhecer as cartas enviadas por essas pessoas. É um reflexo de como toda essa crise de abuso na Igreja vem sendo trabalhada: com belas palavras em público, e com ações contrárias atrás de portas fechadas.”

Quando aceitei a nomeação para a Comissão em 2014, disse publicamente que se achasse que o que ocorria atrás de portas fechadas estivesse em conflito com o que estava sendo dito ao público, eu não permaneceria. Esse momento chegou. Sinto que não tenho escolha senão renunciar caso queira manter minha integridade”.

A saída de Marie Collins aconteceu num momento em que a postura de Francisco junto aos sobreviventes já estava ficando prejudicada, em parte por causa das revelações de que ele teria suavizado as punições impostas contra padres abusadores naquilo que o pontífice vê como espírito de misericórdia, e que os críticos consideram como uma falha na responsabilização pelos atos cometidos.

Há aqueles que apelam ao compromisso do papa com a misericórdia em casos de abuso sexual de padres pedófilos. Eles prestam um desserviço a todos e ao próprio papa, pois suas ações de clemência enfraquecem tudo o mais que ele faz nesta área, incluindo o apoio ao trabalho da Comissão.

A inércia burocrática e os jogos de poder descritos por Collins levantam dúvidas legítimas sobre a seriedade do Vaticano em termos de seu compromisso com o combate a pedofilia na Igreja.

A saída de Marie Collins não necessariamente significou o fim da estrada em termos de representação dos sobreviventes de abuso na Comissão para a Tutela dos Menores. Na verdade, essa saída significou uma transição para um modo de agir mais livre e com menos conflitos pessoais.


17 DE FEVEREIRO DE 2018


FRANCISCO RENOVA COMISSÃO SOBRE ABUSO SEXUAL


A Pontifícia Comissão para a Tutela dos Menores teve o mandato de três anos de seus membros expirado em 17 de dezembro de 2017. Assim o grupo ficou em inatividade por dois meses, o que levou os defensores das vítimas dos padres pedófilos a questionarem se a proteção dos menores estava sendo realmente priorizada na Igreja Católica.

A nomeação de novos membros por Francisco ao seu corpo consultivo vem no momento em que ele enfrenta algumas das críticas mais pesadas de seu papado sobre a forma de lidar com acusações feitas ao Bispo Barros, acusado de encobrir abusos quando era padre, nos anos 80 e 90.

O Papa voltou a nomear oito dos membros anteriores e acrescentou outras nove pessoas. Seis dos antigos membros da comissão não foram renomeados por Francisco.

Marie Collins, ex-membro do grupo que se demitiu conforme já mencionado anteriormente, disse que algumas dessas pessoas que não voltaram a ser nomeadas estavam entre os membros mais ativos do grupo.

Disse Marie Collins:

Estou chocada com o descarte de alguns membros mais ativos e independentes da comissão. Alguns dos que saíram eram os mais ativos e tinham mais experiência no trabalho de proteção das crianças e no trabalho direto com as vítimas”.

A psicoterapeuta francesa Catherine Bonnet, um dos membros não renomeados, também se demitiu da comissão em junho de 2017, após perder as esperanças que tinha em relação ao trabalho do grupo por duas vezes:

Ø  A primeira esperança que tinha era de que as vítimas ou grupos de defesa fossem convidados para serem ouvidos pela comissão, para que pudessem contribuir com o seu trabalho.

 Ø  A outra esperança que tinha era que a comissão votasse por recomendar que Francisco declarasse que os líderes da Igreja ao redor do mundo fossem obrigados a denunciar suspeitas de abusos a autoridades civis, a fim de “reduzir o sofrimento de crianças, para que não tenham que esperar anos e anos para que os abusos sejam denunciados”. 








17 DE FEVEREIRO DE 2018


ENCONTRO DO ARCEBISPO CHARLES SCICLUNA, DE MALTA
 COM UMA DAS VÍTIMAS DE FERNANDO KARADIMA NOS EUA


O jornalista Juan Carlos Cruz, uma das vítimas de Fernando Karadima, encontrou-se nos Estados Unidos, numa paróquia de Nova York, na Igreja do Santo Nome de Jesus, com o arcebispo de Malta, enviado especial do Papa Francisco para investigar as acusações de acobertamento que pesam contra o bispo de Osorno.

Ele acusa Barros de ter testemunhado as violências cometidas por Karadima e tê-las acobertado. O encontro durou três horas, e Juan Carlos o descreveu como longo e emocionalmente difícil, mas que sentiu que pela primeira vez sentiu que as vítimas estarão sendo ouvidas. Cruz entregou a Dom Scicluna duas cartas que escreveu em 2015, que não receberam resposta, ao núncio e ao Papa.

 Cruz disse que:

“não só me perguntaram sobre Barros, mas inclusive sobre os cardeais Errázuriz e Ezzati e sobre outros bispos. Eu tenho a impressão que Barros é o foco central; no entanto, a situação é bem maior que do que ele”.

De acordo com Cruz, em Santiago, Scicluna poderia também ouvir outros três bispos acusados pelas vítimas, Koljatic, Valenzuela e Arteaga, pertencentes à “fraternidade” de Karadima, e que se tornaram bispos, como Barros, na época do Papa João Paulo II.

Na Igreja chilena há uma máquina especializada em encobrimentos”, declara Cruz.


20 DE FEVEREIRO DE 2018


DON SCICLUNA OUVE VÍTIMAS E TESTEMUNHAS EM
 SANTIAGO. O ESCÂNDALO SE AMPLIA


Na terça-feira, 20 de fevereiro, Don Scicluna ouviu mais duas vítimas do padre pederastra Francisco Karadima.

James Hamilton, cirurgião gastroenterologista, falou durante uma coletiva de imprensa durante dez minutos, durante os quais fez revelações e acusações muito sérias.

A outra vítima, Juan Andrés Murillo, filósofo, o primeiro a tornar públicas as acusações contra o Pe. Karadima, guia espiritual da “Pia União do Sagrado Coração”, preferiu não falar com os jornalistas. Ele é o presidente da “Fundação para a Confiança”.

James Hamilton dirigiu críticas aos cardeais Ricardo Ezzati, atual arcebispo de Santiago e Francisco Javier Errázuriz, membro do C9, Conselho dos Nove Cardeais.

De acordo com Hamilton “são eles os dois grandes manobristas que, desde o início, tentaram, com todos os meios, esconder os maus feitos de Karadima”. Juan Carlos Cruz tem a mesma opinião em relação a esses cardeais.

Juan Andrés Murillo questionado sobre sua opinião a respeito da atitude dos cardeais Ezzati e Errázuriz que não deram curso canônico às denúncias que, há anos os fiéis abusados por Karadima apresentaram respondeu: ”todo aquele que tem os antecedentes para investigar casos de abuso e não o faz é cúmplice e criminoso”.

Ainda falta o testemunho de Fernando Battle, uma quarta vítima dos abusos de Karadima que, depois de uma primeira fase de denúncias feitas junto com as outras três testemunhas, tomou a decisão de continuar sua luta a partir de uma posição isolada e não pública.

Battle nunca retirou suas acusações contra Karadima, Barros e os cardeais Ezzati e Errázuriz, que nunca o receberam, assim como nunca responderam a nenhum de seus e-mails.

James Hamilton, disse o seguinte sobre o envio de Dom Scicluna por parte do Vaticano ao Chile aos jornalistas:

“É um sinal de desinformação, de não ouvir aqueles que ele deveria ouvir. É outro elemento a mais de como Ezzati e Errázuriz dizem o que querem. São dois vis delinquentes capazes até de enganar o papa”.

“É importante, porém, que a Igreja não seja mais no país o império que sempre foi. A Igreja aqui não se preocupa com os abusos, assim como o papa e alguns cardeais, até porque muitos deles estão envolvidos nesses casos. Queremos que os crimes de pederastia não prescrevam e que as nossas crianças sejam protegidas”.


21 DE FEVEREIRO DE 2018


PADRE JORDI BARTOLOMEU SE ENCONTRA COM UMA 
DELEGAÇÃO DE LEIGOS DA DIOCESE DE OSORNO


Dom Scicluna foi submetido a uma cirurgia de emergência devido a cálculos na vesícula, na manhã do dia 21 de fevereiro, na clínica UC de San Carlos de Apoquindo. Ele ficou internado até o fim de semana de 24-25 de fevereiro.

O padre Jordi Bartolomeu, designado para substituir o arcebispo de Malta, Charles Scicluna, recebeu a delegação composta de três representantes da Organização Leigos e Leigas de Osorno, na quarta-feira 21 de fevereiro.

Os membros do movimento, Francisca Solis, Juan Carlos Claret e Mario Vargas, chegaram acompanhados de três clérigos, e eles entregaram um documento de 1500 páginas com estatísticas e testemunhos de pessoas que, voluntariamente, quiseram entregar suas declarações diretamente ao representante papal sobre o investigado bispo de Osorno, Jan Barros.

Após o encontro, o porta-voz do movimento dos leigos de Osorno, Juan Carlos Claret, disse que vão “confiar lucidamente no processo” e acrescentou que a chamada crise em Osorno não vai acabar com o fato de “tirar Barros”, a quem ele assinala como a “ponta do iceberg” de um problema mais grave.


27 de fevereiro de 2018


SCICLUNA RECEBE VÍTIMAS DOS ABUSOS DOS IRMÃOS 
MARISTAS


O último gesto de dom Scicluna no Chile antes de retornar ao Vaticano foi o de ouvir diversas vítimas que, há anos acusam membros dos salesianos e dos irmãos maristas de abusos sexuais.

Esse gesto teve uma relevância notável porque é precisamente o contrário daquilo que foi feito durante décadas por aquela parte da hierarquia católica que controla o episcopado.

O enviado do Papa poderia não ter recebido essas pessoas pela razão verdadeira de que recebera do Santo Padre a tarefa específica e circunscrita de ouvir as pessoas envolvidas nas acusações de acobertamento de abusos envolvendo Dom Juan Barros, bispo de Osorno, e ao mesmo tempo, atualizar as informações sobre o caso já julgado com sentença definitiva do sacerdote Fernando Karadima.

Durou quase três horas esse encontro não previsto na agenda de Dom Scicluna com essas outras vítimas de abuso por parte dos Irmãos Maristas.

Os Irmãos Maristas nomearam o salesiano David Albornoz para investigar pelo menos 18 denúncias de ex-alunos do Instituto Alonso de Ercilla e do Colégio Marcelino Champagnant, que acusam 10 religiosos maristas de abusos sexuais desde os anos 1970.

Isaac Givovich, porta-voz desse grupo de vítimas disse:

“queremos a criação de uma comissão especial vaticana que investigue e puna todas as ações cometidas por irmãos religiosos maristas e que as sentenças não sejam determinadas pelos Irmãos Maristas. Achamos que é injusto que eles sejam juiz e réu ao mesmo tempo”.

Jaime Concha, Gonzalo Dezerega e Jorge Franco, três vítimas presentes a esse encontro disseram que:

é um dia histórico que põe fim ao cerco de ferro levantado para garantir a impunidade de alguns. Agora, abrem-se caminhos de verdade e justiça, e não será possível continuar com as mentiras e os acobertamentos. De algum modo, nós estamos dando uma mão ao papa para acabar com uma Igreja que, diante desses crimes, é cega, surda e muda”.


CONCLUSÃO


Para concluir vamos destacar duas publicações importantes que relembram:

  1. a política oficial do Vaticano de silenciamento de crimes sexuais praticados pelo clero;
  2. as palavras do Papa Francisco em 27 de setembro de 2015, quando ele promete seguir o caminho da verdade nas investigações dos crimes de pedofilia praticados pelo clero.


Diz Maicon Tenfen, em 18/janeiro/2018, em seu artigo publicado em http://veja.abril.com.br/blog/o-leitor

De fato, a Igreja não criou a pedofilia, mas certamente detém os direitos autorais de algo que contribui para a proliferação da praga: o acobertamento de padres pedófilos. Sabe-se há muito que o silenciamento de crimes sexuais praticados pelo clero foi uma política oficial do Vaticano.

O Crimen Sollicitationis, escrito em latim em 1962, era um documento então secreto que a Igreja enviou a todos os bispos do mundo.

Seu propósito era informar as providências que deveriam ser tomadas em relação aos padres comprovadamente pedófilos. Basicamente, essas providências consistiam:

Ø  silenciamento de todos os envolvidos;
Ø  excomunhão para a vítima que quebrasse o silêncio;
Ø  transferência do padre pedófilo para uma paróquia distante.

Isso significa que, ciente do problema desde os anos 1960, o Vaticano ignorou as vítimas para proteger a sua reputação.

Parece que pouco mudou de lá para cá. Mesmo a punição de Fernando Karadima foi tardia, embora valha o reconhecimento de que pelo menos alguma coisa aconteceu.

Luis Badilha, em reportagem publicada no Il Sismografo de 28-02-2018 relembra as palavras do Papa Francisco em 27 de setembro de 2015,na Filadélfia, a um grupo de vítimas:

“As palavras não conseguem expressar plenamente a minha dor pelo abuso que vocês sofreram. Vocês são filhos preciosos de Deus e deveriam esperar sempre a nossa proteção, o nosso cuidado e o nosso amor. Estou profundamente entristecido pelo fato de a inocência de vocês ter sido violada por aqueles em quem vocês confiavam. Em alguns casos, a confiança foi traída por membros da própria família de vocês; em outros casos, por sacerdotes que têm a sagrada responsabilidade do cuidado das almas. Em todo o caso, a traição foi uma terrível violação da dignidade humana. Para aqueles que sofreram o abuso por parte de um membro do clero, estou profundamente entristecido por todas as vezes que vocês ou suas famílias denunciaram os abusos e não foram ouvidos ou acreditados. Peço-lhe que acreditem que o Santo Padre escuta vocês e acredita em vocês. Lamento profundamente que alguns bispos tenham falhado na sua responsabilidade de proteger as crianças. É muito preocupante saber que, em alguns casos, foram os próprios bispos que cometeram os abusos. Prometo-lhes que seguiremos o caminho da verdade, onde quer que ele possa nos levar. Clero e bispos serão chamados a prestar contas se abusaram de crianças ou não foram capazes de protegê-las”.


Parece que com o envio do arcebispo de Malta, Dom Sciluna, investigador de abusos sexuais ao Chile, o Papa Francisco está procurando se redimir por ter nomeado para a cidade de Osorno, um bispo acobertador dos crimes cometidos pelo padre pedófilo Fernando Karadima.

A promessa feita em 2015, às vítimas na Filadélfia começa a ser cumprida com essa ampla investigação cujo relatório deverá estar sendo entregue em suas mãos.

Os fatos verificados por Dom Scicluna talvez exijam novas investigações mas o caminho em busca da verdade já foi iniciado. O povo chileno aguarda que a justiça seja feita. 

Todos nós, independentemente de nossas crenças religiosas, esperamos que os responsáveis por crimes de abuso sexual e os seus acobertadores sejam todos punidos exemplarmente, e sem misericórdia. Misericórdia que esses religiosos não tiveram com suas vítimas, indefesas crianças e adolescentes que eles deviam proteger.


BIBLIOGRAFIA


BOLETINS INFORMATIVOS (NEWSLETTER) DO INSTITUTO HUMANITAS UNISINOS


01- Mary Collins explica decisão de sair da Comissão para a Tutela dos Menores – 02/03/2017

02- Por que a saída de uma sobrevivente de abuso sexual de uma Comissão Papal pode ser uma benção – 02/03/2017

03- Francisco intensifica tolerância zero à pedofilia com a indicação de dois membros da Comissão Antiabusos para Dicastérios vaticanos – 06/04/2017

04- Viagem de Francisco ao Chile: decepção e fiasco – 19/01/2018

05- Juan Carlos Cruz. “Dom Scicluna chorou comigo quando lhe falei sobre os abusos que sofri” – 18/02/2018

06- Francisco renova comissão sobre abuso sexual, mas não volta a nomear seis membros – 19/02/2018

07- Dom Scicluna, enviado do Papa, chegou a Santiago do Chile – 20/02/2018

08- Enviado do Papa ao Chile para avaliar os casos de abusos em menores. O escândalo se amplia.- 21/02/2018

09- O primeiro dia de Scicluna no Chile. Na agenda, 20 audiências – 21/02/2018

10- Scicluna: “Venho para recolher informações úteis sobre Dom Barros” – 21/02/2018

11- Chile. Dom Scicluna ouve vítimas e testemunhas. Acusações contra cardeais Ezzati e Errázuris tornam-se cada vez mais fortes – 22/02/2018

12- Chile. “Sentir-se ouvido indica que este é um processo sério”, afirma vítima chilena após encontro com enviado papal – 22/02/2018

13- Chile. Porta-voz do episcopado tenta redimensionar a missão do enviado papal, Dom Scicluna – 22/02/2018

14- Chile. Leigos de Osorno após reunião com o enviado vaticano: “Vamos confiar lucidamente no processo” – 22/02/2018

15- Chile. Caso Karadima-Barros: Uma história de 35 anos, sem solução definitiva e completa, envolvendo quatro cardeais – 24/02/2018

16- Chile. O encontro entre os denunciantes dos abusos de Irmãos Maristas e Dom Scicluna – 28/02/2018

17- Chile. Scicluna recebe vítimas dos Irmãos Maristas – 28/02/2018

18- Francisco: ”Clero e bispos serão chamados a prestar contas”. Termina  a   missão de Dom Scicluna – 01/03/2018



OUTRAS FONTES


   1.   Abusos sexuais e temas políticos na visita do Papa o Chile e ao Peru – 15/01/2018

2.   Três razões que farão da viagem do Papa Francisco ao Chile a mais difícil que ele já fez – 16/01/2018


3.   Papa pede perdão a vítimas de abusos sexuais no Chile –16/01/2018

4.   Papa Francisco debochou das vítimas de padres pedófilos –18/01/2018


5.   Papa sobre o bispo chileno acusado de acobertar abusos sexuais: “É tudo calúnia. Está claro?”  - 18/01/2018

6.   O polêmico pedido de desculpas do Papa Francisco por ter ferido vítimas de abuso sexual –  22/01/2018


7.   Após defender bispo, Papa envia investigador de abusos ao Chile - 30/01/2018

8.   Papa manda enviado ao Chile para investigar pedofilia – 30/01/2018


9.   Vítima de abusos escreveu o Papa sobre bispo chileno, diz ex-membro de Comissão Papal – 06/02/2018