sexta-feira, 2 de outubro de 2015

JESUS - DAS TRADIÇÕES ORAIS À ESCRITA DOS EVANGELHOS





JESUS – DAS TRADIÇÕES ORAIS À 

ESCRITA DOS EVANGELHOS

OU

DO JESUS HISTÓRICO AO CRISTO DA FÉ



JESUS HISTÓRICO



OLÁ, LEITORES (AS) E AMIGOS(AS) DE TEOLOGIA E ESPIRITUALIDADE!


Vamos dar continuidade aos nossos estudos e reflexões sobre o tema dos evangelhos e o Jesus histórico.

Em nossa postagem anterior colocamos uma das questões levantadas por John Dominic Crossan em sua obra “O nascimento do Cristianismo – o que aconteceu  nos  anos  que  se  seguiram  à  execução de Jesus” :


O que pode ter acontecido após a morte de Jesus até o momento em que surgem os evangelhos?


Em minhas pesquisas para desenvolver esse tema encontrei um material valiosíssimo através da internet, no qual me basearei ao longo deste trabalho.

Esse material consta de uma dissertação para a obtenção do título de Mestre em História Comparada, apresentada na Universidade Federal do Rio de Janeiro, no Departamento de História.

A dissertação data do ano de 2009 e intitula-se “Tradições orais e performances comparadas nos evangelhos de Marcos e Q”, de autoria de Lair Amaro dos Santos Faria, com a orientação do Prof. Dr. André Leonardo Chevitarese.

Destacarei alguns trechos dessa dissertação, de interesse mais direto para a temática, a qual enriquecerei com algumas outras pesquisas em outras obras.


A tese veio de encontro à problemática a qual estamos tentando esclarecer.


Como do Jesus histórico chegamos ao Jesus descrito nos evangelhos?

Como do Jesus histórico chegamos ao cristianismo?


Lendo os evangelhos entramos em contato com diversas frases/ discursos que Jesus teria proferido. 

É preciso porém que a gente pense:
  •               Quais dessas frases/discursos realmente são provenientes do Jesus histórico, isto é, de Jesus de Nazaré?



  •                           Quais delas teriam sido a ele atribuídas pelos seus seguidores sem que tenham fidedignidade histórica?


JESUS TERIA RECOMENDADO AOS SEUS SEGUIDORES QUE REGISTRASSSEM SUAS PALAVRAS E AÇÕES?


Não há em nenhuma parte dos evangelhos, sejam eles canônicos ou apócrifos, qualquer recomendação por parte do Jesus histórico, ou que a ele tenha sido atribuída, para que seus seguidores registrassem em textos escritos, suas palavras e suas ações, para as gerações futuras.  

Jesus em sua atividade pelas aldeias da Galileia pregava sobre a vinda do Reino de Deus. Essa pregação tinha um caráter tanto religioso quanto político.

Os estudiosos indicam algumas sentenças que teriam sido pronunciadas pelo Jesus histórico dando a seus discípulos algumas recomendações para que eles defendessem sua mensagem.

Ø “Quem vos ouve, ouve a mim”.
Ø “Quem recebe um profeta na qualidade de profeta, receberá a recompensa própria de um profeta”.
Ø “Ide e pregai”.
Ø “Sede transeuntes”.

Há nessas frases quatro verbos que demonstram a existência de um projeto de Jesus, que envolve o OUVIR, RECEBER, PREGAR, TRANSITAR.

A mensagem de Jesus é ouvida. Essa mensagem é recebida, aceita e interiorizada. Os discípulos seguiam o estilo de Jesus – uma vida itinerante. Eles seguem pelas aldeias da Palestina pregando os ensinamentos de Jesus. São portadores de um texto oral que vai ser ouvido, recebido, entendido coletivamente.

DE QUE FORMA SE TERIA INICIADO UM REGISTRO POR ESCRITO SOBRE A ATUAÇÃO DE JESUS?

Esse texto oral com as falas e as ações de Jesus com o tempo foi conservado de forma escrita através de um registro em um conjunto de documentos de vários tipos.

Os estudiosos levantam diversas hipóteses de como se iniciou esse processo de redação e composição dos manuscritos cristãos

Antes dos evangelhos que conhecemos circulavam tradições orais formadas a partir das memórias fragmentadas de diferentes testemunhas oculares.

Não podemos esquecer que as memórias que as pessoas guardam em seu cérebro, nunca são totalmente fiéis aos fatos observados e falas ouvidas, mas são afetadas por diversos fatores tais como fatores intelectuais (nível de inteligência, atenção), ou fatores emocionais por exemplo.

Dessa forma, houve um intervalo de tempo entre a vida pública do Jesus histórico, e a fixação por escrito feita pelos seguidores de suas palavras e ações na forma de evangelhos. Nesse intervalo de aproximadamente 40 anos aconteceu a transmissão oral das recordações que esses seguidores tinham de Jesus.



A TEORIA DE TEREM EXISTIDO TEXTOS ANTERIORES AOS EVANGELHOS


COMO TERIAM SIDO OS PRIMEIROS ESCRITOS CRISTÃOS SOBRE JESUS?


Os primeiros escritos cristãos eram textos pequenos, fragmentados, chamados de perícopes.  Foram escritos pelos seguidores de Jesus que eram oriundos de comunidades de camponeses e pescadores da Palestina dominada pelo Império Romano. Não se pode esquecer o contexto social e histórico dessas comunidades que eram caracterizadas por uma fraca penetração da cultura escrita.


AS DIVERGÊNCIAS ENTRE OS ESTUDIOSOS SOBRE ESSA TEORIA


Os estudiosos tem opiniões diferentes a respeito de terem existido ou não textos pequenos anteriores aos evangelhos na forma como os conhecemos.

Na concepção de Raymond Brown não teriam existido escritos anteriores aos evangelhos porque as primeiras gerações cristãs acreditavam no “fim dos tempos”. Eles acreditavam que Jesus logo retornaria antecipando o fim do mundo. Essa crença desencorajaria os cristãos a escreverem sobre Jesus para as gerações futuras que não iriam existir. (2004:181-189).

Charles F. M. Moule outro biblista renomado, coloca que a literatura se destacava menos como um meio de propaganda cristã do que como pregação oral. Havia uma coexistência de tradições orais e folhas de papiro redigidas em aramaico, hebraico ou grego, que traziam adágios ou ditos de Jesus, que mais tarde fizeram parte do primeiro evangelho escrito – Marcos.

Para Helmut Koester havia desde o começo uma tradição oral, que pode também ter sido transmitida de forma escrita. Para Koester os primeiros missionários cristãos e líderes das igrejas não eram pessoas iletradas que não sabiam ler e escrever.

Esse material escrito era usado nos momentos de comunicação oral por ocasião das pregações, da catequese e nas celebrações comunitárias. Eram lidos em voz alta, constituindo-se em literatura oral.

Outro estudioso – Gamblereconhece que os escritos cristãos primitivos apresentam traços de uma tradição oral. Isto porém não significa que o cristianismo primitivo se caracterizava como uma cultura oral e iletrada.

Gamble analisa que o costume de classificar os primeiros escritos cristãos como literatura popular das camadas mais baixas da sociedade minimizou o seu papel como literatura e diminuiu a cultura letrada dos primeiros seguidores do movimento de Jesus.

Deve-se considerar que a literatura cristã primitiva estava em continuidade com as tradições literárias judaicas que estavam num contexto sócio-cultural mais amplo. Pode-se dizer que a literatura cristã primitiva é filha da tradição literária judaica.

Os escritores cristãos primitivos fazem constantemente em seus textos citações dos livros sagrados judeus. Deviam reunir-se em grupos para estudar e interpretar as Escrituras Judaicas, e a partir delas construíram suas convicções religiosas e criaram os textos que eram úteis nas pregações e instruções cristãs. Gamble assim tem uma visão que admite o letramento entre algumas ou todas as lideranças cristãs primitivas.


Gerd Theisen levanta a hipótese da existência de três tradições desenvolvidas entre os círculos judaico-cristãos de adeptos do movimento do Jesus histórico:

1.  Coleções de ditos do Jesus histórico – produzidas por carismáticos itinerantes que reproduziam o estilo de vida de Jesus, sendo essas pessoas as verdadeiras transmissoras do novo movimento;

2.  Tradição da paixão – transmitida por grupos fixos de simpatizantes (não itinerantes) e que, muito provavelmente se formou a partir das recordações sobre os últimos dias de Jesus. Essa tradição da paixão teria surgido em alguma data próxima aos fatos nela narrados;

3.  Tradição dos milagres – tradição marcadamente popular formada pelas histórias de milagres.

Theisen assinala que essas tradições não eram estanques, mas que perpassavam esses três contextos sociais (popular, dos itinerantes, das comunidades fixas). Essas tradições se recombinavam, sofrendo todo tipo de alterações, diminuindo ou aumentando de tamanho, incluindo ou excluindo elementos, enfim preservando pouco daquilo que originalmente foi sua matriz.




RESUMINDO






O que se pode depreender até aqui, é que os estudiosos não formaram um consenso amplo se o espaço de tempo entre a morte de Jesus de Nazaré (Jesus histórico) e a produção dos evangelhos foi preenchido pela transmissão das memórias sobre Jesus exclusivamente por meio de tradições orais ou se essas coexistiram com anotações escritas.








O CRISTIANISMO MAIS PRIMITIVO FOI CONSTITUÍDO POR SUJEITOS LETRADOS?


COMO ERA O MUNDO SOCIAL DAS PRIMEIRAS COMUNIDADES JUDAICO-CRISTÃS?


QUEM ERA LETRADO NA PALESTINA ROMANA DO SÉCULO I?



Cristopher D. Stanley considera que o interesse testemunhado nas duas últimas décadas pelos estudiosos do Novo Testamento pelo mundo social das comunidades primitivas cristãs produziu significativos avanços. No entanto, ele indica que o aspecto do não-letramento massivo que caracterizava o mundo dos cristãos primitivos tem sido minimamente observado pelos acadêmicos.

Stanley indica que a maioria dos estudiosos contemporâneos trabalha com um modelo social que pressupõe níveis de letramento que variam de médio e alto no interior das primeiras comunidades cristãs.

Quão realista é esse modelo? É evidente que estimar a extensão do letramento dentro das comunidades judaico-cristãs do primeiro século é um empreendimento incerto.

Vários estudiosos reconhecem que os baixos níveis de letramento estavam entre um dos fatores que contribuíram para a transmissão oral das tradições de Jesus e sobre Jesus antes de sua composição na forma dos evangelhos.

No entanto, o simples fato de que os evangelhos foram escritos e preservados implica um conhecimento da escrita à medida de que não faria sentido para seus autores compor textos para pessoas que não os pudessem ler.

Os estudiosos que aderem a essa posição, admitem que os textos eram escritos para ser lidos e estudados por judeus cristãos comuns. Mas como provar isso?

A transmissão oral por décadas, das tradições de e sobre Jesus, mostra a existência dos baixos níveis de letramento na Palestina. Como esse baixo letramento poderia ter afetado o uso dos evangelhos nas comunidades primitivas após eles terem sido escritos?

Segundo Stanley, uma porção de estudos recentes questionou se o letramento dos judeus da antiguidade era, de fato, tão alto quanto anteriormente se pensava. Muitos pesquisadores depois de uma inspeção mais detida das evidências se convenceram de que os textos usados como argumentos a favor de um letramento judaico amplamente disseminado estavam, em verdade, falando acerca de subgrupos especiais situados no interior da comunidade judaica.


Catherine Hezser concluiu, após exaustivo levantamento de evidências literárias na Palestina romana, que pouquíssimos judeus eram capazes de ler textos simples e assinar seus próprios nomes durante a era imperial. 

A autora descreve o letramento entre os judeus em cinco níveis. O nível com pessoas altamente letradas que podiam ler textos em aramaico/hebraico e grego era composto por um número muito pequeno de pessoas. Uma proporção bem mais ampla da população se situava no nível de identificar letras, nomes e rótulos. Mas a vasta maioria da população tinha acesso a textos apenas por meio de intermediários – pessoas letradas que lessem os textos para ela.


Gamble sublinha que o grau de cultura escrita na igreja primitiva não podia ser maior do que o existente na sociedade greco-romana da qual o cristianismo era uma parte. No período apenas 10% da população sabia ler. Deve-se admitir portanto que, a grande maioria dos cristãos nos primeiros séculos da igreja eram iletrados, não porque fossem uma exceção, mas porque eles eram homens típicos de seu tempo.


John Kloppenborg tem uma compreensão bastante similar. Ele considera improvável que os cristãos do primeiro século desfrutassem de um nível de letramento maior do que a população como um todo.


John Dominic Crossan apresenta alguns dados dos estudos de Gerhard Lenski sobre as classes sociais existentes nas sociedades agrárias onde predomina uma acentuada desigualdade social.[1] A classe camponesa representava a grande maioria da população. O fardo de sustentar o Estado e as classes privilegiadas estava nos ombros das pessoas comuns, principalmente dos lavradores que constituíam a maioria esmagadora da população.[2]

Jesus nasceu em Nazaré. Uma aldeia muito pequena onde a atividade principal dos aldeões era a agricultura e onde a arqueologia não encontrou nenhum tipo de prosperidade. Em plena era romana, Nazaré era uma aldeia profundamente judaica.[3]

Crossan postula que quase por definição, os camponeses são analfabetos. Cita estudos de William Harris segundo os quais a alfabetização entre os judeus sob o domínio romano estava abaixo de 3%.

Assim afirma Crossan:

“Jesus era um camponês de um povoado camponês. Portanto, para mim, Jesus era analfabeto até que o contrário seja provado. [...] Assim, mesmo que Jesus fosse um camponês falando a camponeses, outros, além de camponeses, o ouviam.

O movimento do Reino de Deus de Jesus começou como movimento de resistência camponesa, mas abandonou seu caráter localista e regionalista sob a liderança dos letrados”.[4]



Concordamos com a primeira premissa dessa dissertação que é:




A transição do Jesus histórico para o cristianismo mais primitivo esteve sob a responsabilidade de camponeses e pescadores iletrados – isto é, os primeiros seguidores do movimento de Jesus, situados nas aldeias e vilas rurais da Palestina romana, eram homens e mulheres marcadamente iletrados”.





O QUE SIGNIFICA “CRISTIANISMO MAIS PRIMITIVO”?



Essa expressão se refere aos anos perdidos do cristianismo – os anos 30 e 40 do I século, décadas obscuras, envoltas em silêncios, que se seguiram imediatamente à execução de Jesus.[5]

Crossan ressalta que não há documentos escritos datados desse período – anos 30 à 40 d.C. – que permitam reconstruir historicamente o mesmo. No entanto ele apresenta um novo método que combinando a antropologia, a história, a arqueologia e a literatura tornará possível estabelecer o contexto da forma mais definida possível, em que foram escritos os textos  cristãos  permitindo que eles sejam melhor compreendidos.[6]

Quando Crossan afirma que inexistem fontes escritas datadas dos anos 30-40 d.C isso pode ser consequência do fato de que aqueles que disseminavam o programa do Reino de Deus eram, assim como Jesus, iletrados.

Em diferentes momentos do primeiro século após a morte de Jesus surgiram textos que reuniam lembranças das pessoas que viveram na mesma época de Jesus e testemunharam sua autuação.

Os estudiosos concordam de forma relativamente ampla que os documentos mais primitivos da literatura cristã seriam o evangelho segundo Marcos e o evangelho Q.


O QUE SERIA O EVANGELHO  Q?

NO QUE CONSISTE A TEORIA DAS DUAS FONTES?



Crossan indica haver um grande consenso entre os estudiosos: o de que Mateus e Lucas usaram Marcos como principal fonte na composição de seus próprios evangelhos.

Depois de chegar a esta conclusão, os estudiosos observaram que havia outras passagens comuns a Mateus e Lucas, mas não presentes em Marcos. De onde elas vieram? A sequência geral e o conteúdo específico daquelas passagens comuns a Mateus e Lucas e não derivadas de Marcos levaram os especialistas a postular a existência de uma segunda fonte grega escrita, usada juntamente com Marcos por aqueles dois outros escritores sinóticos – Mateus e Lucas.

Esta outra fonte principal é chamada de Q, porque foram exegetas alemães que a descobriram, e Quelle é a palavra alemã que significa fonte.

Crossan afirma denominar essa fonte de Evangelho de Q em sinal de completo respeito. O Evangelho de Q (também chamado de Evangelho de Sentenças Q)foi completado, mais provavelmente em duas etapas, por volta de meados do século I, e foi, possivelmente composto na Galiléia  e em suas imediações.

Essas conclusões são chamadas de Teoria das Duas Fontes, significando que Mateus e Lucas usaram, cada um, duas fontes principais, Marcos e Q, como base para seus próprios escritos.[7]


COMO SURGIRAM OS DOCUMENTOS MAIS ANTIGOS DA LITERATURA CRISTÃ – MARCOS E Q


Pode-se imaginar que esses dois documentos mais antigos da literatura cristã remontam aos carismáticos itinerantes – missionários ambulantes que deixaram o pouco que tinham e se engajaram totalmente na divulgação da pregação de Jesus sobre o Reino de Deus.

Nas comunidades cristãs que iam se estabelecendo sugiram indivíduos letrados que se encarregaram de colocar por escrito as tradições de e sobre Jesus que eles ouviam daqueles pregadores itinerantes.

Esses indivíduos letrados e os grupos a que pertenciam possuíam expectativas diferentes para o povo de Israel e muitos embates internos ocorreram dentro desses grupos. Em decorrência, aconteceram alterações programáticas no movimento de Jesus.











RESUMINDO


Homens e mulheres que viram e ouviram o Jesus histórico acreditaram na utopia do Reino de Deus. Para eles o assassinato de seu líder era um sinal para que a proposta de Jesus fosse espalhada pelo mundo.


Jesus vivia um estilo de vida itinerante. Seus seguidores adotaram também esse estilo de vida itinerante, percorrendo as aldeias da Galileia sem fixar moradia em nenhuma delas.


Essas pessoas eram iletradas, como quase todas as pessoas de sua época eram. Portanto não possuíam anotações escritas que registrassem as palavras de Jesus (seus ensinamentos) e suas ações. Eles apenas carregavam em suas memórias as lembranças daquilo que viram e ouviram.


Havia o risco de com o tempo essas recordações irem se perdendo, os detalhes começarem a ser esquecidos. E não se pode deixar de destacar que quem ouve uma estória, a entende de acordo com seu nível de entendimento, de maturidade, de experiência de vida.  E que ao recontá-la para outras pessoas sempre apresentará alterações na estória narrada seja por acréscimos, omissões e até deturpações.
Assim se passaram quatro décadas após a morte de Jesus e somente nos anos 70 surge o evangelho de Marcos.


Supõe-se que os missionários itinerantes, ao retornar a alguma aldeia anteriormente visitada, percebessem que as estórias por eles contadas tempos atrás, agora estavam sendo contadas de forma diferente. Eles podem ter pensado numa forma de manter as narrativas padronizadas de forma a conservar as tradições de e sobre Jesus inalteradas.


Assim os primeiros textos que podem ter sido escritos por algumas pessoas que dominavam a escrita, tentavam reproduzir as pregações dos missionários que aconteciam em encontros coletivos.


Os textos dos evangelhos de Q e de Marcos são não obra de escritores alfabetizados que compõe um trabalho escrito numa escrivaninha.


Os textos dos evangelhos de Q e Marcos são uma transcrição posterior das pregações feitas pelos missionários itinerantes.


Quando se afirma que os missionários itinerantes guardavam na memória o que Jesus disse e fez, surge a necessidade de que nos debrucemos nos estudos que se dedicam a entender como a memória funciona.

      Podemos dizer que existe uma memória individual e uma memória social sendo ambas seletivasO que se conserva na memória, ou o que se esquece, depende de pessoa para pessoa, de lugar para lugar, de um grupo para outro, de uma época para outra de acordo com o que vem a ser significativo para o indivíduo ou sociedade.


Mas esse é um outro tema que pode ser tratado posteriormente em outra postagem.















[1] Crossan, John Dominic – “O Jesus histórico – a vida de um camponês judeu do Mediterrâneo” – Rio de Janeiro: Imago Ed., 1994 (Coleção Bereshit) – p. 80
[2] Idem – p. 81
[3] Crossan, John Dominic – “O Jesus histórico – a vida de um camponês judeu do Mediterrâneo” – Rio de Janeiro: Imago Ed., 1994 (Coleção Bereshit) – p. 51
[4] Crossan, John Dominic – “O nascimento do cristianismo – o que aconteceu nos anos que se seguiram à execução de Jesus” . São Paulo: Paulinas, 2004. – (Coleção Repensar) – p.275
[5] Crossan, John Dominic – “O nascimento do cristianismo – o que aconteceu nos anos que se seguiram à execução de Jesus” . São Paulo: Paulinas, 2004. – (Coleção Repensar) – p. 17
[6] Idem – p. 18
[7] Crossan, John Dominic – “Quem matou Jesus? As raízes do anti-semitismo na história evangélica da morte de Jesus” – Rio de Janeiro: Imago Ed., 1995 – p.40