Olá, amigos de TEOLOGIA E
ESPIRITUALIDADE!
Dessa vez
voltei rapidinho para trazer um artigo que li na Revista Veja, de 07 de agosto de 2013 ,
escrito pelo articulista J.R. Guzzo.
Gostei
muito do artigo e como ele trata do surpreendente Papa Francisco e da questão
da perda de fiéis pelo mundo afora por que passa a Igreja Católica, temas esses que desenvolvemos em nossa postagem anterior,
resolvi compartilhá-lo com vocês.
Espero que também apreciem a matéria!
Boa leitura...
Abraços!
Rosa Maria
PENSAMENTOS
SIMPLES
PAPA FRANCISCO E
O DESAFIO REAL PARA A IGREJA CATÓLICA DE HOJE
O Papa Francisco foi-se
embora do Brasil, levando consigo a sensacional simpatia que promete fazer dele
uma estrela internacional. Deixou para trás aquele sorriso capaz de desmanchar
uma pedreira de granito, e lembranças que muita gente guardará para o resto da
vida. O mais importante para o futuro, porém, são as primeiras pistas que
Francisco foi colocando aqui e ali, muito discretamente, sobre suas idéias
gerais a respeito de como enfrentar a ameaça mais perigosa que a Igreja
Católica tem pela frente hoje: a perda lenta, gradual e segura de fiéis pelo
mundo afora, cada vez mais desinteressados em questões de fé religiosa como um
todo, e da fé cristã em particular. Essa vazante é mundial – inclusive no
Brasil, o país que a tradição diz ser o mais católico do mundo. Ano após ano, a
Igreja de Roma vem perdendo fiéis brasileiros para religiões concorrentes, como
os chamados cultos evangélicos, ou para a indiferença de um público muito mais
interessado nas coisas materiais, que podem ser compradas com dinheiro e
consumidas de imediato, do que nas coisas do espírito. Os seminários andam com
taxas de ocupação abaixo do necessário, e em alguns dos países mais católicos
da Europa já começam a haver mais igrejas do que padres.
Francisco,
em sua visita ao Brasil, não tem uma
solução clara para isso, nem para o caminhão de outros problemas que a Igreja
Católica carrega hoje nas costas – da pedofilia, que leva cada vez mais famílias
a não colocar seus filhos em colégio de padre, à corrupção vulgar de qualquer
república bananeira. Nem Jesus Cristo em pessoa, se pudesse descer hoje à
terra, conseguiria destrinchar a horrorosa variedade de estorvos que seus
pastores foram criando ao longo de vinte séculos – não nos sete dias que Deus
precisou para construir o mundo. O que pode fazer, diante disso tudo, um homem
só, por mais papa e mais infalível que seja? Pode, para começo de conversa,
mostrar uma qualidade preciosa em situações como essa: a capacidade de encarar
situações complicadas com seus pensamentos simples. O Papa Francisco parece
capaz de fazer isso.
“Se
uma pessoa é gay, procura o Senhor e tem boa vontade, quem sou eu para
julgá-la?”, disse Francisco pouco depois de deixar o Brasil. Ele reclamou, é
verdade, dos grupos gays que se formam para influir no Vaticano. Mas o que
vale, mesmo, é a essência de sua convicção: sim, afirmou o papa, a pessoa pode
ser gay e cristã ao mesmo tempo. Por que não? É o contrário do que sustenta há
séculos a doutrina da Igreja, numa resistência teimosa, mesquinha e inútil à
liberdade de costumes no mundo de hoje. Mas Francisco parece estar avisando que
não pretende rezar exatamente por esse catecismo – e que não considera
inteligente estreitar a porta de entrada na Igreja num momento em que o
catolicismo perde um número cada vez maior de seguidores. Não parece fazer
muito sentido, de fato, ficar com tanto enjoamento, numa hora dessas, para
dizer quem está ou não qualificado para ser católico. Pelos critérios vigentes,
um católico não pode ser gay, nem divorciado, nem casado com uma segunda
mulher. Não pode usar camisinha. Não
pode casar se quiser ser padre, e tem de casar se quiser viver com uma pessoa
de outro sexo. Não pode aceitar o aborto, trabalhar em pesquisas com
células-tronco ou descrer de milagres e de outras coisas que ofendem a lógica
mais elementar. Não pode achar que o homem vem do macaco, nem que as espécies
evoluem e se transformam com o passar do tempo. Não pode isso, não pode aquilo
– são exigências demais. Pior: todas
essas exigências não tem absolutamente nada a ver com nenhum valor moral. Uma
pessoa pode levar uma vida perfeitamente exemplar, do ponto de vista moral, e
ser divorciada, por exemplo. Por que, então, deveria ser excluída do
catolicismo?
Eis
aí o desafio real para a Igreja católica de hoje: aceitar como cristã toda
pessoa que viva com decência, tenha valores e se comporte segundo um código
moral. Está tudo explicado no Sermão da Montanha, o texto mais importante o Evangelho e o
primeiro guia de conduta apresentado à humanidade, junto com os Dez
Mandamentos; é nele que Cristo ensina que o homem tem de ser honesto, tolerante
e generoso, tem de dizer a verdade, saber perdoar e buscar a justiça, viver em
paz e amar o próximo. Basta fazer o que está escrito lá – o que, por sinal, é
muito difícil. Lembrar o Sermão da Montanha, que a Igreja jamais seguiu,
poderia ser um bom começo para salvar o catolicismo no século XXI.
(J. R. GUZZO – REVISTA VEJA Nº 32 – EDIÇÃO 2333 – 07 DE AGOSTO/2013-
PÁGINA 134)
Nenhum comentário:
Postar um comentário